MAURO BRANDÃO, mineiro de Caeté, escritor, poeta e músico, é Bacharel em Ciências Econômicas pela U

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

é tudo igual...



TODOS IGUAIS


Sai de casa! Era um domingo quente, e o povo estava nas ruas. Parei na praça e encontrei duas amigas, Andreia e Paula, que estavam de bobeira. Fui até elas, e no meio da conversa, propus às duas que déssemos uma volta de carro pela cidade. Elas toparam! Andreia foi à frente e Paula atrás. Paula logo viu uma garrafa de Big Apple – um rum Bacardi com sabor de maçã – meio escondida deba
ixo da minha poltrona. Ela logo pegou a garrafa e começou a beber, ali, no bico mesmo. Paula é uma mulher muito branca, e a cada golada que dava, ficava mais vermelha.

A cidade oferecia muitos pontos de aglomeração de pessoas naquela noitinha de domingo, e um desses pontos era o parque de diversões, que estava cheio. Carrinhos de pipoca e sanduíche inundavam a frente do parque, e Paula, já meio encharcada pelo licor e rubra como uma perua, quando viu aquele monte de gente, abriu a janela de trás e começou a mexer com as pessoas, gritando com a sua voz rouca:
— E aí, piriguete! Bundinha empinadinha, heim? Tá coçando heim, dirigindo-se a três meninas que estavam com shortinhos muito curtos e tops apertadinhos e cavados.
— Ô doidão! Cê num sabe pilotar não. Cuidado pra não cair, mexia Paula com o motoqueiro, que arrancava sua moto que estava perto do parque, e olhava em vão de onde saíra aquela voz rouca e feminina.

Ao andarmos uns trinta metros no carro, ladeando o passeio da avenida cheia de pessoas e carros, e que se fazia chegar ao parque, Paula avistou um casal, e sem pestanejar, lascou:
— Ô chifruda! Seu namorado tá te pondo gaia. Sua chifrudona, gritou Paula, roucamente alto.

Pelo retrovisor, percebi que o casal, na mesma hora desataram as mãos, e pareceu que uma briga surgira ali, imediatamente, após aquele grito anônimo.
...
Na segunda de noite, depois daquele domingo relaxado, a campainha da minha porta tocou. Era o meu amigo Carlos. Enquanto eu fazia meus trabalhos no computador, ele me contava uma história interessante:
— Ontem eu tava com Cida perto do parque, passeando de mãos dadas, quando passou um pessoal num carro parecido com o seu, e uma muié, de dentro do carro, gritou e chamou Cida de chifruda. Olha só cara! E o pior é que Cida, na mesma hora, empurrou minha mão e começou a quebrar o pau comigo. Perguntou o que era aquilo, porque que aquela mulher tava chamando ela de chifruda, e logo em seguida disse, furiosa: o que tá acontecendo? Tô de olho nocê tem muito tempo, Carlos! Cê num me engana não! Esse jeito bonzinho seu, todo romântico, sempre fazendo poesia e me dando flores... É seu Carlos! Tem treta aí!

Na mesma hora, saquei a história. Eu não reconheci o meu amigo no momento porque eu estava atento ao trânsito, e enquanto Paula mexia com as pessoas, eu só gargalhava, mas não olhava para quem ela estava se dirigindo. Porém, resolvi ficar calado, não revelar a verdadeira história ao meu amigo, e dar-lhe corda. Ele continuou, lamentando:
— Foda, né! Eu tô apaixonado pela Cida, nunca a traí, e uma mulher que nem sei quem é, passando na rua de carro, grita de dentro e a chama de chifruda. Tomamos um susto! E depois disso, azedou tudo! Difícil demais ter a fama sem deitar na cama! E o pior é que ela quebrou o pau comigo! Saiu pisando duro, e eu atrás dela. Ela acelerava os passos, e eu atrás, pedindo pra gente parar e conversar. E Cida falava gritado: vai encontrar com aquela tal de Andreia! Com suas vagabundas! Cê gosta é de fazer coleção de mulher com essa conversa mole sua!

Quando ele comentou sobre Andreia, tomei um susto. E pelos dados que Carlos forneceu, conclui que a tal Andreia era a mesma que estava comigo no domingo, e ocupava a poltrona dianteira de passageiros do meu carro. E eu, de olho em Andreia, doido pra ficar com ela, pelo menos uma vez, mas ela sempre jogava duro. Pensei: “as mulheres são todas iguais”. E colocando Carlos contra a parede, ele acabou abrindo o jogo:
— É! Eu andei dando umas saídas com Andreia mesmo. Mas ninguém tá sabendo disso. É uma coisa só nossa, muito discreta.

Imediatamente, sem eu revelar a dona daquela voz que deu origem a todo aquele arranca-toco, questionei: — Tem certeza? Cê acha que Andreia não contou pra ninguém? Não tem mulher que não conta as suas aventuras para a outra não, camarada. Senão, não teria graça! Pra que ficar com um cara se não espalhar pras amigas? Qual é a graça da mulher? A mulher é competitiva pela própria natureza e adora se exibias para as outras mulheres. Até as minhas amigas, que nunca me deram nem um beijo na boca, ficam com ciúmes quando eu falo de outra mulher pra elas. Se você quer se dar bem com as mulheres, você precisa entende-las, e não é fácil entender mulher não.
— O problema é que Cida não quer papo comigo, interrompe Carlos. Telefonei o dia inteiro pra ela e o celular só dava fora de área. Eu tô desorientado, sem saber o que fazer, fala ele, com aquela voz de profunda lamentação.
— Mas me diga uma coisa, indaguei. Desculpa perguntar, mas cê sabe se a menstruação de Cida está por vir?

Carlos pensou, e depois disse: — Acho que deve tá chegando. Pelas minhas contas aqui, daqui a uns três a quatro dias.
— Pronto! Matou a charada, falei. Esquenta não, camarada. Daqui a dois dias ela vai ficar toda murchinha, querendo seu colo. É a tal da TPM, que deixam elas descontroladas.
— Cara! Mas vou te contar, interrompe Carlos. Eu tô afim mesmo é de ficar com aquela tal de Paula. Adoro uma branquinha, e aquela voz rouca então... Me deixa doido!

E eu, sorrindo marotamente, pensei: “as mulheres tem razão! Os homens são todos iguais...”.

[Mauro Brandão - 28/05/2012 - 20h47]

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